Por Ricardo Noblat
Marcos Valério, um dos cérebros do
mensalão, voltou a ameaçar Lula, segundo a VEJA desta semana.
Em pânico com a possibilidade de vir
a ser condenado pelo Supremo Tribunal Federal, que começará a julgar no próximo
dia dois os 38 réus do mensalão, Valério se disse disposto a contar que esteve
com Lula várias vezes, o que Lula sempre negou.
Foi Paulo Okamoto, uma espécie de
diligente tesoureiro informal da família Lula, que de novo dobrou Valério.
Naturalmente, Okamoto nega que Valério tenha feito qualquer ameaça a Lula. Ou
dito que antes do estouro do escândalo do mensalão estivera com ele na Granja
do Torto, uma das residências oficiais do presidente da República.
"[Valério] queria me encontrar
porque às vezes quer saber das coisas. Em geral, ele quer saber como está a
política, preocupado com algumas coisas", justificou Okamoto. Foi claro?
Adiante.
Coube também ao advogado Luiz Eduardo
Greenhalgh, outra peça importante da engrenagem do PT, agir para sossegar o
espírito atribulado de Valério.
Ponham-se no lugar do ex-publicitário
mineiro. Era rico, riquíssimo antes de se meter com o PT de Delúbio Soares,
Genoino e José Dirceu. Tinha duas agências de propaganda. E inventara uma forma
de lavar dinheiro por meio de bancos para engordar o caixa 2 de políticos às
vésperas de eleições. Eduardo Azeredo, do PSDB, foi um deles.
Procurado para fazer pelo PT o que
fizera por Azeredo, imaginou ter tirado a sorte grande. O governo Lula estava
nos seus meses iniciais. E a turma à frente do partido em busca do tempo
perdido.
De repente, todas as portas se
abriram para Valério. E ele passou a "fartar os olhos" admirando o
dinheiro que entupia as suas burras.
Teria dado certo - não fosse o
tresloucado gesto de Roberto Jefferson, presidente do PTB, que por pouco não
pôs o governo a pique.
Em um sábado de junho de 2005, depois
de tomar uns goles a mais na Granja do Torto, Lula falou em renunciar ao
mandato. Ficara sabendo que Valério admitira envolvê-lo no escândalo.
José Dirceu, então chefe da Casa
Civil da Presidência da República, foi chamado às pressas em São Paulo.
Escalado para dar um jeito em Valério, deu sem fazer barulho.
Naquele dia postei em meu blog que
Lula falara em renúncia - embora eu não soubesse por que. Nunca recebi tantos
desmentidos de porta-vozes e amigos do governo.
Ainda no segundo semestre de 2006,
Valério voltou a atacar. Procurou um político de forte prestígio junto a Lula.
Queixou-se de estar quebrado. Acumulava dívidas sem poder honrá-las. Seus bens
haviam sido bloqueados. Caso não fosse socorrido, daria um tiro na cabeça ou
faria com a Justiça um acordo de delação premiada.
O político pediu uma audiência a
Lula. Recebido no gabinete presidencial do terceiro andar do Palácio do
Planalto, o político reproduziu para Lula o que ouvira de Valério.
Em silêncio, Lula virou-se para uma
das janelas do gabinete que lhe permitia observar parte do intenso movimento
nas vizinhanças do palácio.
Então perguntou ao visitante:
"Você falou sobre isso com Okamoto?" O visitante respondeu que não. E
Lula mais não disse e nem lhe foi perguntado. Seria desnecessário.
O diligente Okamoto, aquele que pouco
antes pagara do próprio bolso cerca de R$ 30 mil devidos por Lula ao PT,
apascentou Valério.
Falta alguém em Nuremberg!
Quero dizer: falta alguém na denúncia
oferecida pela Procuradoria Geral da República sobre a "organização criminosa"
que tentou se apossar do aparelho do Estado.
Desviou-se dinheiro público - e não
foi pouco. Pagou-se para que deputados votassem como queria o governo.
Comprou-se o apoio de partidos.
Nada será capaz de reparar o mal
produzido pelos que chegaram ao poder travestidos de legítimos hierarcas da
decência - falsos hierarcas como se revelariam mais tarde.
Mas se a Justiça só enxergar
inocentes entre eles, isso significará que também foram bem-sucedidos na tarefa
de trucidar a esperança.
Fonte: "Blog do Noblat"
Um comentário:
Como falta alguém?? Está claro demais que o mensalão jamais teria ido tão longe, não teria movimentado tanta grana, não fôsse o "cara" o seu mentor. Não creio, se o STF fôr mesmo isento, honesto e imparcial, que o "cara" fique de fora, até o final.
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