Por Ricardo Noblat
Se depender de José Dirceu, ex-chefe
da Casa Civil de parte do primeiro governo Lula, o bicho vai pegar antes,
durante e, se necessário, depois do julgamento do processo do mensalão pelo
Supremo Tribunal Federal (STF).
Nunca antes na história recente do
país convocou-se o povo para pressionar um tribunal. Pois bem: Dirceu começou a
fazê-lo.
Rapaz ousado!
Mais certo seria chamá-lo de
temerário, imprudente, perigoso, atrevido, insolente, afoito, demente,
precipitado, desaforado, petulante, desajuizado, incauto, arrogante,
desvairado, impulsivo, arrebatado, insensato - e mais o quê? Pense. E
acrescente aí.
Quem se diz democrata respeita a
independência dos poderes da República. Pode discordar de decisões da Justiça?
É claro que sim. E até criticá-las com indignação.
Mas ao fim e ao cabo só lhe resta
acatá-las. Diga-me: que democrata de verdade insufla o povo para que constranja
a Justiça a decidir como ele deseja?
De passagem por Brasília, em conversa
com um amigo há um mês, Dirceu pareceu abatido e certo de que será condenado
por ter chefiado "uma sofisticada organização criminosa" que tentou se apoderar
de uma fatia do aparelho do Estado, segundo denúncia do Procurador Geral da
República aceita pelo STF.
Não revelou ao amigo que cogitara
exilar-se em Cuba ou na Venezuela. Uma vez condenado, viajaria denunciando a
injustiça de que fora vítima.
Arquivou a ideia. Concluiu que seria
difícil convencer os ouvintes de que era um perseguido político no país
governado por seu próprio partido há quase dez anos.
Mas surpreendeu o amigo ao revelar
que os chamados "movimentos sociais" não assistiriam inertes a sua eventual
condenação. Diz-se informado de que reagiriam por meio de manifestações de rua.
Não descartou a hipótese de que tais
manifestações acabassem antecipadas. Tudo dependeria da data do julgamento.
O STF marcou o julgamento para agosto
e setembro próximos.
Na tarde do último sábado, Dirceu
aproveitou no Rio o 16º Congresso Nacional da União da Juventude Socialista
(UJS), ligada ao PCdoB, e pediu aos estudantes que saiam às ruas em sua defesa.
"Será a batalha final", proclamou com ar grave.
- Todos sabem que este julgamento é
uma batalha política. E essa batalha deve ser travada nas ruas também porque
senão a gente só vai ouvir uma voz, a voz pedindo a condenação, mesmo sem
provas. É a voz do monopólio da mídia. Eu preciso do apoio de vocês - suplicou.
A Procuradoria Geral da República
considera que há provas suficientes para condenar os 38 réus do mensalão. Com
ela concordou o STF ao acolher a denúncia.
São 11 os juízes. Advogados com livre
trânsito no STF apostam na condenação de Dirceu por dois a três votos de
diferença.
Sabe de quem será um dos votos pela
absolvição? Está sentado? Do ministro Gilmar Mendes.
Por que tanto espanto?
Se fosse menos mal agradecido, o PT
reverenciaria Gilmar sempre que ele fosse citado. E não valorizaria nem um
pouco as suas explosões de temperamento.
Quem evitou a inclusão do ex-ministro
Luiz Gushiken na lista dos mensaleiros? Gilmar.
Quem sentou por mais de um ano em
cima do processo que impediria Aloizio Mercadante de ser candidato ao Senado
devido ao seu envolvimento com os aloprados, responsáveis em 2006 pelo falso
dossiê contra candidatos do PSDB? Gilmar.
Quem salvou da condenação o
ex-ministro Antonio Palocci, acusado de ter mandado quebrar o sigilo bancário
do caseiro Francenildo dos Santos, testemunha ocular de suas idas e vindas à
alegre mansão do Lago Sul de Brasília, reduto de amor e de negócios?
Ora, Gilmar. Sempre ele.
Palocci foi absolvido por um voto de
vantagem.
Dirceu sabe disso. Como sabe que a
força da mídia é declinante, a se acreditar no que apregoa Lula.
Como sabe que há provas de que o
mensalão existiu.
A propósito, uma vez ele observou em
entrevista à Folha de S. Paulo: "Eu falei para não fazer".
Falou para quem? Para Delúbio Soares,
tesoureiro do PT?
Para José Genoino, presidente do PT?
Para Lula, que sempre jurou de nada
saber?
Por sinal, Lula foi à televisão, se
disse traído e pediu desculpas aos brasileiros por um episódio que hoje chama
de "farsa".
Jamais revelou quem o traiu.
Não faria sentido pedir desculpas por
uma farsa.
Vai ver que na época acreditou que o
mensalão de fato existira. Hoje, não acredita mais.
- Não podemos deixar que esse
processo se transforme no julgamento da nossa geração. Não permitam julgamentos
fora dos autos - apelou Dirceu.
Os réus do mensalão são de várias
gerações.
Os estudantes que ouviram Dirceu não
são da geração dele.
De resto, em nada ajudará Dirceu
disseminar a grave suspeita de que o STF poderá julgar desprezando os autos.
Fernando Collor pediu ao povo que
fosse para as ruas defendê-lo da ameaça de impeachment.
O povo foi às ruas exigir o
impeachment.
Lula disse à oposição que se
socorreria do povo caso pretendessem apeá-lo do poder.
Medrosa, e com rala base popular, a
oposição preferiu não pagar para ver.
O melhor que pode acontecer a Dirceu
é que seu apelo caia no vazio e seja logo esquecido.
Fonte: "Blog do Noblat"
Um comentário:
Quando dizem que "o poder emana do povo..." é isto mesmo. Em relação aos canalhas mensaleiros, sabemos que nada está decidido; tudo dependerá de como conseguirem convencer a maioria do povão que não se informa devidamente e se deixa levar por qualquer conversa fiada, se esta fôr bem elaborada. Se emocionam até com o "chôro" de Dilma e de Lula, nos palanques da vida...é mole?
Ah, outro adjetivo prá Dirceu: Coisa Ruim
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