Por Ruy Fabiano
Corrupção é de direita ou de esquerda? A pergunta
parece - e é - idiota, mas decorre da tentativa absurda de conferir blindagem
ideológica a políticos envolvidos com Carlos Cachoeira.
A CPI foi concebida para crucificar dois pesos-pesados
da oposição: o senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO) e o governador tucano de
Goiás, Marcone Perillo, acusados, em graus diferenciados, de relações
promíscuas com o contraventor.
Eis, porém, que, na sequência, descobriu-se que mais
dois governadores, além de um punhado de parlamentares governistas, jogavam no
mesmo time: Agnelo Queiroz (PT-DF) e Sérgio Cabral (PMDB-RJ). Agnelo, que já
era alvo de denúncias do tempo em que ocupou uma secretaria no Ministério da
Saúde e em que foi ministro dos Esportes, soma agora mais essa.
Bem mais do que Perillo, seus assessores mostraram-se
integrados ao esquema Cachoeira.
Sérgio Cabral é amigo íntimo do dono da Delta,
Fernando Cavendish, o que, em si, não constitui nenhum delito. Porém, trata-se
de empresa que passou de nanica a gigante na Era Lula, com obras bilionárias no
estado que Cabral governa, muitas sem licitação.
A Delta, de quebra, está sob suspeita de integrar ou
mesmo de pertencer ao esquema Cachoeira, o que coloca o governador no alça de
mira da CPI.
Diante do imprevisto - altamente previsível -, começa
um movimento seletivo para poupar os governistas e centrar as investigações nos
oposicionistas. Mais especificamente, em Demóstenes e Perillo.
Daí a pergunta inicial sobre corrupção e ideologia. O
Código Penal não discrimina ninguém; a política, sim.
O que é óbvio em todo esse imbróglio é que, se há
alguém que não exibe qualquer intolerância ideológica, esse alguém é o próprio
Cachoeira. Relacionou-se com todos, à direita e à esquerda, mas, por razões
óbvias, mais com quem está no poder - e, por conseguinte, dispõe de meios mais
eficazes de atendê-lo.
Ninguém monta um esquema invasivo do Estado, nas
proporções em que Cachoeira o fez, abrangendo os três Poderes, sem amplas e
plurais conexões. Num país em que tudo depende do Estado, que a tudo invade, é
inevitável que para lá se desloquem a esperteza e o crime.
Como disse um diretor da Delta, "basta dar uns milhões
a um senador" e tudo se resolve. A um senador, a um deputado, a um governador,
a um juiz, a um ministro, a um chefe de gabinete ou mesmo a uma secretária,
dependendo do que se pretende e com a propina variando de acordo com a
instância hierárquica.
Na Era PT, o Estado ampliou os seus domínios, seus
tentáculos até a intimidade administrativa de empresas privadas. O episódio da
nomeação do presidente da Companhia Vale do Rio Doce, privatizada no governo
FHC, é emblemático.
O governo Lula, como se recorda, discordou do nome
escolhido e fez a empresa nomear outro. Em tal ambiente, a busca de sucesso
empresarial deixa de ser a eficiência e a conquista do mercado e passa ser o
âmbito governativo.
Em vez de investir dinheiro no aprimoramento de sua
atividade, o empresário é tentado a investi-lo comprando pessoas influentes,
que não estão necessariamente apenas no governo, mas também na oposição, como
foi o caso de Demóstenes.
O país, afinal, é pluralista e quem é oposição em
Brasília pode ser situação em seu estado.
Suponhamos que a CPI, na melhor das hipóteses, atenda
as expectativas do público e desmonte o esquema Cachoeira, revelando suas
conexões políticas e promovendo uma razoável faxina nos três Poderes (sejamos
otimistas). O problema estará resolvido? De modo algum.
Quantos Cachoeiras ou candidatos a circulam nas
diversas esferas do Estado brasileiro?
Enquanto este for o responsável pelo sucesso ou
fracasso das atividades econômicas, o mal continuará presente, a seduzir
ambiciosos e oportunistas.
No caso Demóstenes, o que mais se ouve entre seus
pares – governistas e oposicionistas -, antes (ou mesmo acima) de qualquer
condenação moral, é uma censura técnica, do tipo "ele foi ingênuo de falar
tanto ao telefone". A lição que deixa, pois, é esta: seja mais discreto ao
telefone.
As operadoras, daqui em diante, devem faturar menos no
âmbito da Praça dos Três Poderes.
* Ruy Fabiano é jornalista
Fonte: "Blog do Noblat"
Um comentário:
Prá início de conversa, não acho correto uma única empresa ganhar quase todas as obras. Devia haver uma lei, proibindo isto. Se está provado que sempre há aditivos, aumentando e muito o preço final da obra, tá claro que aí tem.
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