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No Domingo de Páscoa

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sexta-feira, 13 de abril de 2012

"O entorta rua"

Por Hugo Navarro

Diz antigo e famoso dicionarista que entortar é "dobrar uma coisa de maneira que fique torta". O Dicionário Escolar de Candido Jucá (filho) dá à palavra o sentido de torcer, recurvar, dobrar, voltar. Estes e outros significados ganharam, modernamente, o domínio público para dar nome até a desvio de ordem moral, sair da linha reta, arruinar-se, entregar-se à bebedeira, às drogas, perder-se. Deve, a palavra, ter parentesco com entorse, termo médico que segundo o Paciornik é "lesão traumática das partes moles de uma articulação", em virtude da qual de vez em quando aparece alguém de pescoço torto por ter levado murro na cabeça ou qualquer motivo semelhante. Funcionário do antigo DNER ganhou fama, nesta cidade, por ter entortado, à força de soco, pescoço de Zuzuca, famoso pela galinha assada que vendia na Rua do Meio, e um professor levou grande parte da vida de pescoço torto em virtude de murro que lhe deu, no crânio, acatado membro da classe médica local, o que demonstra, claramente, que murros e entorses contribuem, positivamente, para a democratização dos costumes nacionais.
O mais importante "entortador" dos que já pareceram neste país foi Uri Geller, israelense que surgiu, vitoriosamente, na televisão, em espetáculo de circo mambembe, fazendo milagres paranormais como entortar garfos, colheres, e mudar, à distância, ponteiros de relógios, diante de brasileiros embasbacados com os seus poderes telecinéticos e outras malandragens que reforçaram crenças e velhas esperanças, resultando até em apelido de ponta-esquerda do Flamengo, Júlio César, que costumava "entortar" a defesa adversária. Uri teve sucesso, que durou pouco, porque apareceram outros sujeitos fazendo as mesmas coisas, demostrando, entretanto, que tudo não passava de truques mais ou menos baratos, com o que Uri ficou votado ao esquecimento.
Ninguém poderia prever que em Feira de Santana, muitos anos depois, haveria concurso para escolher outro tipo de "entortador", certamente destituído de poderes mentais, mas cheio de poderes políticos, o "entortador" de rua.
O interessante fato, digno de figurar nos fastos desta cidade nem sempre feliz, está registrado nos anais da Câmara, denunciado por vereador, e, na Assembleia do Estado, por dois outros representantes do povo.
Feira de Santana atualmente está sufocada pelo grande número de veículos motorizados que lhe entopem ruas e praças, dificultando a vida de todo mundo, criando cenário de acidentes que têm custado vidas humanas além de enormes e variados sofrimentos, drama ante o qual o poder público mostra-se impotente. A avenida Nóide Cerqueira, aberta no governo anterior, continuação da avenida de Getúlio Vargas, foi planejada com oito quilômetros de comprimento e quarenta e cinco metros de largura. Mas, enquanto a Prefeitura buscava meios para a pavimentação da nova e monumental avenida, intrometeu-se, no assunto, o verboso Governo do Estado, que resolveu assumir a responsabilidade da obra, reduzindo-a, entretanto, na largura, e desviando-a do traçado original. Pelo novo plano, do Estado da Bahia, a avenida Nóide Cerqueira passaria a ter traçado sinuoso, novo Tranca de Pedro Miséria. É evidente que ninguém acredita que o governo estadual vá fazer alguma coisa, além de promessas, como a da ponte de Itaparica, mas fica o risco de prevalecer, no futuro, o seu projeto de avenida cheia de curvas e dificuldades para o trânsito e para a população, comprometendo a beleza e utilidade do empreendimento, o que deve estimular o empenho de quem se diz representante do nosso povo em defender o traçado original da Nóide Cerqueira, sob pena de ingressar, de corpo e alma, no concurso, que já anda na boca do povo, para a escolha do "entorta rua mor" a figurar, tristemente, na História de nossa terra, uma espécie de infeliz Rei Momo sem Micareta. Quem se habilita?
Fonte: Jornal "Folha do Norte", edição desta sexta-feira, 13

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