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No Domingo de Páscoa

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terça-feira, 11 de outubro de 2011

"Aulas para o mundo"

Por J. R. Guzzo
Tornou-se um hábito do governo brasileiro e suas redondezas, nos últimos tempos, dizer aos países desenvolvidos o que deveriam fazer para melhorar de vida e sair da triste situação em que andam metidos – em contraste, é claro, com o Brasil, onde tudo é melhor hoje em dia, da política econômica ao misto-quente, e onde a gerência da administração pública praticamente não encontra rivais em nenhum outro lugar do mundo em matéria de sabedoria, qualidade das decisões tomadas e quantidade de problemas resolvidos. Basta a uma pessoa atenta passar meia hora em algum país rico para ver que ali está tudo liquidado, segundo nos asseguram figuras-chave do atual governo e, sobretudo, seu antecessor. Não é bem o que milhões de brasileiros que viajam ao exterior veem com os próprios olhos, mas quem está interessado em sua opinião? Já no Brasil, enquanto isso, qualquer um pode ver como foram bem resolvidos, finalmente, problemas que têm sido uma dor de cabeça para a humanidade durante os últimos 10 000 anos. Ainda na semana passada, em Bruxelas, a capital da comunidade europeia, a presidente Dilma Rousseff deu um novo pacote de conselhos às nações desenvolvidas. Vejam só que beleza está o Brasil, disse a presidente. Por que vocês não fazem como a gente?
Dilma acha que a Europa, os Estados Unidos, o Japão e outros países atualmente em ruínas deveriam aprender com o Brasil que o sistema financeiro precisa ser severamente controlado através do mundo. Seria bom, também, que vissem como o governo brasileiro, com seu entendimento superior das coisas, conseguiu dar ao país crescimento econômico, aumento de renda, mais emprego, melhora na produtividade e equilíbrio nas contas públicas. Os governos deveriam fazer uma "coordenação política" entre si para lidar com a "crise" e, possivelmente, governar o mundo do jeito que ele deveria ser realmente governado; havendo qualquer dúvida, o Brasil está aí para ensinar o que for preciso. A presidente da República está longe de ser a única a dar aulas de "boa governança", como se diz hoje, aos países ricos – e só a eles, claro, porque dar conselho a país pobre não tem graça nenhuma. Seu antecessor no cargo já faz isso há muito tempo; uma das suas lições preferidas é ensinar aos Estados Unidos (ou, como se diz, "ao Obama") que o seu problema é não terem ("como eu tinha no Brasil") um Banco Central, um Banco do Brasil, uma Caixa Econômica, um BNDES e outras maravilhas da finança estatal. Se tivessem algo parecido, a crise internacional já estaria resolvida há muito tempo.
Até o ministro da Fazenda, Guido Mantega, que no Brasil prefere normalmente ficar sentado na classe a ir para o quadro-negro, se sente animado a dar suas aulas quando a plateia é de Primeiro Mundo. Já sugeriu, por exemplo, que os Brics forneçam ajuda à zona do euro para resolver os problemas atuais da moeda europeia. É verdade que não explicou como uma coisa dessas poderia ser feita na prática, nem o que os outros Brics achariam da sua ideia, mas fica mais uma contribuição para a melhoria do mundo. Da mesma forma, deram também para fornecer suas lições de sabedoria analistas políticos, cérebros da ciência econômica nacional e até empresários citados nas listas de bilionários internacionais. O que há em comum entre eles é que pouco ou nada de útil resulta de todo o seu palavrório pelo mundo afora.
O Brasil passou os últimos 100 anos ouvindo do Primeiro Mundo, através de suas cabeças mais respeitadas, todos os tipos possíveis de conselho. Líderes de governos e de organizações mundiais, capitães da grande indústria e da grande finança, economistas que fizeram história, prêmios Nobel – todos, num momento ou outro, disseram quanto o Brasil estava errado, e como teria de se comportar para ter alguma esperança de salvação. É perfeitamente sabido e comprovado, hoje, que muitos dos conselhos que deram estão entre os mais estúpidos já registrados pela história humana. Seria prudente, diante dessa experiência, que autoridades ansiosas em aconselhar os outros pensassem um pouco mais antes de falar, para não acabarem cometendo o mesmo erro. Mais que tudo, na verdade, governantes de um país que tem os índices de criminalidade, analfabetismo e corrupção do Brasil, para mencionar apenas uma parte da calamidade nacional permanente, deveriam ficar em silêncio e trabalhar o tempo todo para resolver nossas desgraças, em vez de se meter a dar palpite em problemas alheios. Pelo jeito, é esperar demais.
Fonte: Revista "Veja", edição desta semana

Um comentário:

Mariana disse...

Com tantos corruptos brasileiros, eu teria vergonha de abrir a boca prá criticar os aspectos negativos dos outros.