Opção de transferência bancária para a Pessoa Física: Dimas Boaventura de Oliveira, Banco do Brasil, agência 4622-1, conta corrente 50.848-9

Clique na imagem

*

*
Clique na logo para ouvir

No Domingo de Páscoa

No Domingo de Páscoa

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

"As novas formas do falso. Ou: O ambientalismo como sucedâneo do antigo comunismo"

Por Reinaldo Azevedo

A morte da “luta de classes como motor da história” - e da militância política - fez com que as esquerdas migrassem para o que chamo de “causas parcialistas”. É um fenômeno intelectual curioso: bem ou mal (muito mal!), os esquerdistas d’antanho tinham uma visão, digamos, universalista do homem; tanto é assim que queriam reinventá-lo. Os contemporâneos, ao contrário, pretendem é impor ao conjunto da sociedade a agenda privada de um grupo: racialismo, questões de gênero, meio ambiente etc. Desses todos, o que mais preserva o espírito autoritário da velha esquerda, fazendo da mentira instrumento de luta política, é o ambientalismo.
É compreensível que assim seja: as outras causas acabam, no limite, dividindo as pessoas. Os ambientalistas, como monopolistas do “bem”, têm uma nova universalidade a oferecer: a natureza! E todos amamos a natureza, vocês sabem, desde que nossas mães coletaram no mato o nosso primeiro pagãozinho (peças da indumentária dos infantes). O ambientalismo, a exemplo do velho comunismo, também é uma máquina de produzir mistificações. O “aquecimento global antropogênico” (ou “desordem climática”, como chamam agora) ainda não atingiu, no quesito “fantasia ideológica”, o status da antiga União Soviética, mas chega lá.
Reportagem de ontem da Folha, que virou manchete, assegura que o relatório do deputado Aldo Rebelo (PC do B) com uma proposta para o novo Código Florestal ampliaria a ocupação de áreas sujeitas a tragédias nas zonas urbanas porque liberaria a construção em encostas e nas várzeas dos rios. Demonstrei aqui - e não opinei apenas porque não se trata de matéria de opinião — que a informação é improcedente. Trata-se de lobby ambientalista - pode até ser “lobby do bem”, como querem alguns, mas é lobby ainda assim. Miriam Leitão, militante da área ambiental, vai na mesma linha em seu comentário na CBN no dia 14. Ela chegou até a descobrir uma certa “lógica do planeta”, o que é uma teoria interessante, que assombraria o mundo. Sua síntese da proposta de Rebelo é lastimável.
É de um oportunismo asqueroso usar a tragédia que atingiu centenas de famílias para fazer… política! No caso, baixa política. As mudanças propostas no Código Florestal NÃO TERIAM QUALQUER INFLUÊNCIA na questão urbana. Isso não está no texto. Nas vezes em que se fala de áreas urbanas consolidadas, remete-se a leis específicas - uma delas é a do projeto Minha Casa, Minha Vida. O código está virando a panacéia para curar - ou agravar - todos os males. Daqui a pouco será evocado contra unha encravada, espinhela caída e melancolia. Reitero: querem defender o código como está? Querem “reflorestar” áreas já ocupadas pela agricultura há décadas? Acham que isso será bom para o Brasil? Pois que defendam as suas teses. Mas mentir é feio. Atentar contra a lógica é um crime intelectual.
Boa parte da tragédia a que se assiste no Rio decorre de ocupações irregulares? A resposta, obviamente, é “sim”. E o que isso tem a ver com as mudanças no Código Florestal? Nada! Ele é pensado em face da atividade agrícola e pecuária. Tem a ver, e muito!, com política. A Austrália vive a maior enchente de sua história - choveu muito mais do que na região serrana do Rio — , e os mortos, até agora, são 14, com 50 desaparecidos, e não quase 700. A área atingida foi muito maior. Morre-se menos de terremoto no Japão do que no Haiti; morre-se menos de chuva na Austrália do que no Brasil. Como diria Carlos Drummond, “obra do homem e da tecnologia, meu bom brasileiro”! E também de uma política responsável de ocupação da moradia.
Quem não quer preservar? Todos queremos! O que não é aceitável é que se atribua a um eventual futuro código uma tragédia ocorrida na vigência do código que está aí, ora bolas! Isso, sim, é insensato, Miram Leitão! Sim, é preciso tirar as pessoas das áreas de risco e impedir as ocupações irregulares, mas não será por meio do Código Florestal que se vai atingir tal objetivo. Mais: a boa causa também não justifica que se violente a lógica.
Alguns bobinhos estão bradando: “Ah, você não entende nada disso! Não é especialista em área ambiental!” Claro que não sou. Mas sei reconhecer uma bobagem lógica quando diante de uma. Vamos aos fatos. Em Santa Catarina, em Angra e, agora, na região serrana do Rio, os deslizamentos ocorram em morros pelados ou florestados? A resposta óbvia, factual, inquestionável, é esta: em morros florestados. Conhecemos as causas: os morros dessas regiões são rochas cobertas por uma fina camada de solo rico em matéria orgânica, muito poroso. No período das chuvas, o solo fica encharcado. Vem do céu o dilúvio, como se assitiu há uma semana, e tudo despenca. Esse fenômeno ocorre em áreas da Serra do Mar há alguns milhões de anos.
Digam cá ao não-especialista (especialista é Miriam Leitão): alguém ouviu falar de áreas de pastagens em Santa Catarina que tivessem cedido, soterrando pessoas? Acho que não! Construir em topo de morro, por si só, não mata ninguém. Ou seria preciso destruir as edificações do Pão de Açúcar, tirar o Cristo do Corcovado (esse, parece, Dilma pretende deixar lá), destruir Santa Tereza, a Igreja da Penha, as favelas do Rio, os bairros do Morumbi e Perdizes, em São Paulo e por aí afora… O planeta não tem muita lógica, à diferença do que diz Miriam Leitão, mas a engenharia tem a matemática! Há castelos pendurados em penhascos na Europa há alguns séculos. Não ruíram nem vão ruir. Alguns agüentaram até bombardeio. As construções têm de estar adaptadas à topografia, ao clima, ao regime de chuvas - no vale ou na montanha.
A proposta de Aldo Rebelo não guarda qualquer relação com as tragédias. E, se relação houvesse, seria pelo avesso do que pretende a militância: o que desaba são os morros cobertos por florestas, não aqueles plenamente urbanizados - ainda que de maneira precária, como sabem a Rocinha ou o Complexo do Alemão. É inaceitável - e não é o Código Florestal que vai coibir a prática — que haja pessoas morando em áreas que a avalanche de lama e árvores reivindica para si. Cabe às três esferas do governo coibir a ilegalidade. E, para tanto, basta a verdade.
Fonte: "Blog Reinaldo Azevedo"

Um comentário:

Mariana disse...

O jeito é aparecer de qualquer maneira e estudar um pouco prá se ter uma base técnica sôbre o assunto, toma muito tempo; razão do 8 ou 80, como no caso desse código florestal descabido e autoritário. Por isto que avalanches aconteceram novamente, no Rio, em um ano. Ninguém dêles se preocuparia com isto em ano de eleições e se deram mal porque aconteceu o triste repeteco.