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segunda-feira, 1 de novembro de 2010

"Se os brasileiros são amigos das luzes ou das trevas"


Por Henrique Rossi


Grande Otelo como "Macunaíma", de Joaquim Pedro de Andrade, 1969, baseado em Mário de Andrade: "Ai que preguiça!"
Foto: Reprodução


"Os brasileiros, diante deles mesmos, em auto análise - será que se pode esperar coisa boa? Será que o espelho faz bem à vaidade deles? Será que não ficarão irremediavelmente envergonhados da própria aparência? Infelizmente, não é possível sabê-lo porque, ainda que haja um espelho diante dos brasileiros, falta luz ao ambiente em que se encontram. Sem luz, não é possível que o espelho reflita para eles a imagem horrorosa que aos menos incapazes talvez causasse certo desconforto. Os brasileiros jazem na escuridão. Fizeram-se amigos das trevas. Sofrem, agora, as consequências. Não valorizam a educação, a civilidade. Confundem festejar com vandalizar. Não possuem o mais elementar juízo crítico ou, se o possuem, preferem nunca dar-lhe atenção. O que possuem de ilimitado, e que deveriam usar para avançar e produzir novidades, eles transformaram em falta de limites. O brasileiro nunca contribuiu, como parte da família humana, com qualquer coisa significativa. Sua existência reduz-se à inexpressividade total. Ao invés de participarem da construção de um mundo melhor, deixam para as próximas gerações um mundo igual ao que receberam, ou pior. De fato, enquanto estiverem mergulhados em trevas os brasileiros nunca realizarão todo o potencial inexplorado que possuem.
Mas, se estão destinados a altas tarefas, se possuem inegáveis talentos e potencialidades, como convencer os brasileiros a utilizá-las? Como fazer com que abandonem a injustificável e praticamente imperdoável fobia pela leitura? Lula, há poucos meses, gabou-se por nunca ter gostado de ler em toda a sua vida, e pouquíssimas vozes se levantaram para acusar-lhe a indecência. Mas ele sabia o que dizia. E podia fazê-lo porque conhece o povo que o elegeu, conhece o desapreço pela educação dos seus eleitores. Uma transformação para melhor não será possível sem que seja abandonada esta visão segundo a qual estudar é perda de tempo. De fato, não há solução possível a mãos humanas, pois os brasileiros já se convenceram das virtudes da cegueira. Para que eles possam se envergonhar do seu triste reflexo no espelho, há de se iluminar antes o ambiente em que se encontram. Sem a presença desta luz tudo há de permanecer como está. Se vocês esperam, por algum motivo intangível, que este país avance, talvez tenham de reconhecer que, diante do panorama que nos cerca, qualquer melhora a ocorrer dependerá de virtudes imponderáveis, dependerá dessa luz de estranhas vontades. Se ela, contrariando as vontades dos brasileiros, decidir iluminar-lhes, talvez não seja mais impossível que eles vejam o seu rosto deformado e monstruoso.
Se ao menos os brasileiros fossem mais desejosos da verdade, se quisessem ver a si mesmos como são, talvez esta luz os visitasse. Talvez ela os tomasse por seus eleitos. Mas esta parece ser uma esperança distante, uma utopia insólita. Talvez seja mais razoável supor que esta luz decida auxiliar-lhes sem a justa contrapartida, ou seja, mesmo que os brasileiros não mereçam, ou não tenham feito por merecer. Também esta alternativa é estranha, mas se os brasileiros serão auxiliados, isto terá de ocorrer contra a indisposição deles. Resta saber se esta luz acha certo auxiliar quem não deseja ser auxiliado, resgatar quem está confortável em afogar-se. Pois se a missão dela é iluminar, por que ela se esqueceria de executar o que é justo e reto? Isso só seria possível se a sua benevolência, ou amor, fosse maior do que a sua justiça. Sem isso, os brasileiros jamais poderão sair da inércia e do marasmo nos quais se encontram, pois a indiferença e o preconceito estão por demais arraigados em seus princípios e valores mais importantes.
Infelizmente, ainda hoje se pode exclamar, com Mário de Andrade, que muita saúva e pouca saúde são os males do Brasil, pois este nosso próximo, tão imediato e tão distante, ainda não se cansou de exclamar desavergonhadamente: 'Ai, que preguiça!'."
Fonte: Blog "Polimático"

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