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sábado, 18 de outubro de 2008

Tragédia de Santo André: E nós com isso?

Está no Blog Reinado Azevedo:
Num próximo caso de cárcere privado, a exemplo do que se viu em Santo André, acho que a Polícia deve convocar os especialistas do Complexo Universitário PUCUSP e Adjacências para que digam o que fazer. Nenhum deles conseguiria libertar um passarinho de uma gaiola, mas todos têm severas censuras à atuação dos responsáveis por conduzir a operação. Que se note: o GATE (Grupo de Operações Táticas Especiais) da PM já se viu em dezenas de casos assim. A esmagadora maioria é bem-sucedida. A população nem fica sabendo. Basta um desfecho trágico como o de ontem para que a Polícia seja vista como o exemplo da ineficiência.Precisou que Rodrigo Pimentel, ex-capitão do BOPE, do Rio, e hoje roteirista de cinema, lembrasse essa performance do GATE - uma das melhores do mundo em tropas especiais. Será preciso ser especialista para concluir que a Polícia também cometeu erros? Não! Eu mesmo já disse aqui: o retorno de uma das reféns ao cativeiro, depois de libertada, foi uma estupidez. Que princípio a orientou? Quero deixar registrado logo de saída: o grande responsável pela tragédia, o que ninguém disse até agora, vejam vocês, é Lindebergue. Mas avanço na reflexão. E a imprensa? Não estaria na hora de rever sua postura em casos assim? Vamos devagar.Sou contra a qualquer restrição legal ao trabalho da imprensa em assuntos que são de interesse público. E este é. Não estou falando sobre leis e imposições. Minha adaptação de Tocqueville é conhecida e corre por aí sem autoria: “Os males da liberdade de imprensa se corrigem com mais liberdade de imprensa”. E a imprensa deve ser livre o bastante para decidir, inclusive, não ser parte, ainda que involuntária, de um espetáculo trágico. Repito: vamos devagar.Houve, sim, um erro patético. Mas me parece que foi um apenas: a volta de uma das reféns. Tudo o mais é puro wishful thinking de quem ignora as dificuldades do terreno de operações. Ao longo do dia de ontem, li e ouvi algumas indagações: “Por que não se recorreu a um atirador de elite quando Lindebergue apareceu na janela?” Diz o coronel José Vicente da Silva, um especialista em segurança: “Não era o caso”. Ademais, convenham: dar certo, nesse caso, seria matar o rapaz - com as inevitáveis acusações de truculência; dar errado seria acabar atingindo uma das vítimas ou errar o alvo - e ele, então, se encarregaria de matar as meninas. No prédio em que estavam, o acesso era praticamente impossível sem expor as garotas ao risco extremo. A Polícia só agiu, sustenta, quando ouviu o primeiro tiro dado no interior do apartamento. Creio que seja verdade. Para quem já havia esperando mais de cem horas... E então chegamos ao ponto.Será que...?Será que não é hora de a imprensa rever o seu papel em casos como este? Não sou especialista em comportamento - nada além de algum bom senso. Mas indago: o que será que alguém como Lindebergue pretende? Durante cinco dias, este rapaz ligou a televisão e se viu como a estrela de um filme longuíssimo, de um drama que mobilizou o país, que levou especialistas em comportamento à televisão para aquelas digressões entre irresponsáveis e irrelevantes sobre o comportamento humano. Um rapaz pobre, da periferia, que decide se vingar da ex-namorada, vê-se, subitamente, no centro de uma verdadeira comoção nacional.O jornalismo sério se esforça para fazer o seu trabalho, com as devidas ponderações. Mas e aqueles delinqüentes disfarçados de jornalistas, que promovem aquela gritaria histérica nas tardes brasileiras, com “repórteres” de campo resfolegando ao microfone? Os absurdos que se dizem são inenarráveis. E, claro, todos eles com uma solução na ponta da língua, passando, muitas vezes, informações erradas. E Lindebergue, claro!, acompanhava tudo, autor, ator e telespectador da própria tragédia, vendo-se a si mesmo numa espécie de reality show, mas na particularíssima situação de quem podia ditar o rumo e o ritmo dos acontecimentos.Libertar as reféns, ouso dizer, significava voltar a ser ninguém - e um ninguém entre ninguéns na cadeia. Significava sair da televisão e cair no esquecimento, ignorado por todos, abandonado, certamente, como será, até mesmo pelos amigos. Consta que nem a família se apresentou na cadeia para lhe levar roupas ou alguns pertences. As meninas eram a sua garantia de que permaneceria na TV.Será que estou propondo que a imprensa seja proibida de cobrir o evento? Não! Acho que ela tem de estar lá, acompanhando tudo. Mas as imagens, creio, só deveriam ir ao ar depois do desfecho. A presença de repórteres é uma garantia a mais de que os agentes encarregados de cumprir a lei a cumpram de fato. Porque a imprensa estava lá, ficamos todos sabendo, por exemplo, da decisão estupidamente errada de permitir a volta ao cativeiro de uma das garotas. Mas acho que o jornalismo precisa repensar o seu papel em casos assim: não acaba se transformando em parte do problema em vez de contribuir para a solução?“Qual é, Reinaldo? A Nossa função não é resolver nada”. Vá lá. Mas até onde ela contribui, então, para agravar o caso? De fato, não tenho uma resposta definitiva para as minhas questões. Não enxergo, ademais, outro caminho que não fosse uma espécie de código de auto-regulamentação, que passasse por um compromisso de todos os veículos - o que, sei bem, é coisa complicada. Se o seqüestrador, num caso como esse, passa visivelmente a alimentar a sua loucura, o seu delírio, com a notoriedade que lhe conferem o noticiário e esses programas de entretenimento, não seria o caso, então, de não lhe fornecer essa facilidade?Não! Não transfiro responsabilidades. O culpado pelo que aconteceu é um só: o próprio Lindebergue - ainda que a boca torta pelo uso do cachimbo procure, uma vez mais, culpar exclusivamente a polícia, não bastando apontar o seu erro evidente, já aqui abordado. Ele, ninguém mais, é o responsável pelo que vier a acontecer às meninas. O que pergunto é se não nos cabe, ao jornalismo, uma indagação de natureza ética, que sempre ajuda a tornar melhor o nosso trabalho. E, se o jornalismo se aprimora, a sociedade também avança.
*PS – E vai aqui uma observação que sei incômoda, sem, repito, aliviar minimamente a carga dos ombros de Lindebergue. Mas eu não seria eu se silenciasse um incômodo com receio de que alguém pudesse achar a questão imprópria. Lindebergue tem 22 anos; Eloá, a ex-namorada, agora entre a vida e a morte, 15. Namoravam havia três anos. Isso quer dizer que uma criança de 12 começou a ter um relacionamento amoroso com um adulto de 19. Tenho de dizer: acho impróprio. Podem apontar o meu padrão moral estreito os cultores do vale-tudo. Não me importo. Eu jamais me importo. Mas há algo de profundamente errado num ambiente que considera isso normal. Não que o fato estivesse fadado à tragédia. Mas os auspícios não eram bons. Que os pais reflitam.

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